1
- O que é o Rito Romano tradicional?
Apesar
de ser única, a Liturgia da Igreja pode ser celebrada em diversos
ritos, como o Rito Romano, Bizantino, Maronita, etc. Mudam as
cerimônias, mas o ato litúrgico é o mesmo.
No
Rito Romano, a celebração da Missa recebeu suas primeiras formas já
na época de São Pedro, Bispo de Roma e primeiro Papa,
desenvolvendo-se pelos séculos até atingir a sua estrutura
fundamental durante o pontificado do Papa São Gregório Magno. A
partir daí, todas as mudanças e acréscimos feitos no Rito da Missa
serão secundários, porque a base do Rito Romano já estava
estabelecida.
Em
1545, durante o Concílio de Trento, a Igreja quis unificar
o Rito Romano, sujeito às particularidades de cada Diocese. Não se
trata de “criar” um novo Missal, mas de eliminar as variações
locais tomando por modelo o seu tipo exemplar (o Missal usado em
Roma), para que o Rito fosse idêntico em todo o Ocidente. A
unificação impediria que em certas localidades os protestantes
falsificassem o Missal introduzindo heresias, como ocorrera então.
Por esta razão, o Rito da Missa a partir desta unificação ficou
conhecido como tridentino,
isto é, “de Trento”, porque foi por ordem do Concílio de Trento
que houve a sua revisão.
Entretanto,
o Concílio tridentino apenas solicitou a reforma do Missal, mas foi
dissolvido sem empreender tal tarefa. O verdadeiro responsável pela
unificação foi o Papa São Pio V, o qual a conclui em 1570. A
partir daí costuma-se dizer que a Missa obedece o “Rito de São
Pio V”.
Outros
acréscimos foram feitos ao Missal tridentino desde então, mas sem
alterar a estrutura fundamental do Rito Romano, que permanece a mesma
desde São Gregório. As mudanças mais substanciais só acontecerão
após o Concílio Vaticano II (1962-1965), quando a Igreja solicitou
uma Reforma na Liturgia.
Já em 1965, com o fim do Concílio, o Rito Romano sofre várias
modificações, que simplificam, mas também inovam. Depois, em
1969, durante o pontificado do Papa Paulo VI, um novo Rito é
promulgado, chamado de Novo Ordinário da Missa, que o grande liturgista Monsenhor Klaus Gamber prefere chamar de Ritus Modernus.
Sobre o costume de chamar o Rito pré-conciliar de “Rito
tridentino” ou de “Rito de São Pio V”, convém lembrar que estes nomes são menos adequados. Os liturgistas preferem chamá-lo de Rito Romano tradicional ou então de Rito Gregoriano,
porque a codificação do Missal por parte do Papa São Pio V é
apenas uma fase de um Rito que já estava estruturado desde o Papa
São Gregório. Ainda que várias mudanças tenham sido feitas ao
longo dos séculos, elas não afetam os fundamentos do Rito Romano, pois
somente com a promulgação do Novo Rito da Missa, em 1969, que
ocorreram alterações verdadeiramente substanciais no Ordinário da Missa. Isso quer dizer que o Rito Gregoriano é o
resultado do desenvolvimento
da Liturgia no
Ocidente.
2
- O que é a Missa?
Deus
criou o homem para a glória do Céu, fazendo-o conviva da felicidade
divina por um ato de exclusiva bondade, visto que criatura alguma
mereceria tal prêmio. Mas o homem não só é indigno do Céu, como
também incapaz de atingi-lo por suas próprias forças. É
necessário um auxílio divino, a graça
santificante, que é a
presença de Deus na alma do homem,
quando Deus mesmo faz morada em suas criaturas, unindo-se a elas pelo
amor. E justamente
porque mora no homem, tornando-se a vida da sua alma,
Deus dá valor sobrenatural
para os seus atos, tornando-os meritórios,
isto é, dignos do prêmio da Vida Eterna.
Entretanto,
ao cair em pecado, Adão frustra a sua salvação, e expulsa de si a
presença de Deus pela graça, merecendo agora a condenação eterna.
Não obstante essa perda, o pecado de Adão também causou uma
profunda desordem de natureza,
porque a malícia da sua ofensa tornou-o afeiçoado pelo
pecado, de modo que a sua
inteligência ficou afetada em ignorância
(dificuldade em conhecer a verdade), e a sua vontade inclinou-se
para o mal (a concupiscência).
Em razão desses efeitos que a primeira transgressão é chamada de
pecado original,
porque Adão não só pecou, como também transmitiu o
estado da sua natureza decaída
a todos os seus descendentes. Desse modo, todo o homem nasce sob as
consequências
do pecado original, como diz o salmista: “eis que nasci
na culpa, e minha mãe concebeu-me no pecado”
(Sl. 50, 7).
Por
uma questão de justiça, o pecado precisaria ser reparado, porque é
uma ofensa a Deus. Mas toda
a ofensa é proporcional à pessoa ofendida,
isto é, o peso e o valor da ofensa se medem pela pessoa a quem se
ofendeu. Deste modo, se Deus é infinitamente bom e digno de ser
amado, uma ofensa a Deus só pode ter valor infinito,
isto é, uma gravidade e malícia ilimitada. E já que o pecado exige
reparação, somente uma obra que tenha mérito
infinito seria capaz de
satisfazer a ofensa infinita cometida contra a majestade divina.
Sendo assim, nenhum homem ou outra criatura poderá reparar a
injustiça do pecado, porque as criaturas são seres
limitados, e por isso mesmo
incapazes de oferecer uma obra cujo mérito seja infinito. A
criatura, ao ofender a Deus, comete injustiça infinita,
enquanto que, ao reparar, suas obras não alcançam a infinita
justiça devida a Deus.
Impossibilitado
de reparar a ofensa que cometeu, de que modo o homem irá se salvar?
Deus, vendo a condenação que recaía sobre a humanidade e desejando
que toda a justiça se cumprisse, por misericórdia envia Seu Filho,
Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, a fim de que Ele realizasse a
obra da redenção.
Com efeito, o Filho é Deus com
o Pai e o Espírito Santo, e por isso qualquer obra Sua teria valor
infinito. Mas como foi o homem
aquele que ofendeu, também deve ser homem aquele que irá reparar; e
para isso o Filho se encarna,
assumindo a natureza humana sem perder a Sua natureza divina, sendo
uma só Pessoa com duas naturezas. Por ser homem, Jesus
Cristo paga pelos pecados em nome de toda a humanidade. Por ser Deus,
Sua obra redentora possui mérito infinito,
capaz de reparar a infinita injustiça das transgressões humanas.
Assim,
quando Cristo morre na Cruz, Ele realiza um verdadeiro sacrifício,
porque oferece todo o Seu Ser
como ato de adoração, louvor, ação de graças e reparação à
Trindade Santíssima. Nosso Senhor entrega a Sua Vida no Calvário
como Oferta agradável a Deus,
a fim de reparar a infinita injustiça do pecado.
Jesus realiza verdadeiramente a Redenção do homem, oferecendo um
culto infinitamente digno a Deus pelo sacrifício da Sua própria
Vida, ato sublime de Amor. Importa notar aqui que Deus poderia
condenar pura e simplesmente o homem pelo seu pecado, ou poderia
aceitar uma reparação cabível às forças do homem, como os
sacrifícios do Antigo Testamento, por exemplo. Entretanto, dando o
Seu Filho único como Cordeiro imolado, a Sabedoria divina escolheu o
meio que mais cumpre a justiça (preferindo a reparação rigorosa e
perfeita) e mais expressa a misericórdia (aceitando que Seu Filho
repare os pecados consumindo a Si mesmo por Amor).
Mas
a morte de Jesus no Calvário não bastou para realizar a salvação.
Faz-se necessário um meio para que os efeitos da Redenção fossem
aplicados nos homens. Por esta
razão, Cristo deixou para a Igreja os Sacramentos,
que são os canais por onde são aplicados os frutos da
Redenção, através das graças
sacramentais, operando assim a recuperação da vida divina na alma.
O
primeiro Sacramento é o Batismo, porque sem ele nenhum outro
Sacramento tem efeito. Ele nos infunde a graça
santificante, a qual Adão
perdeu para si e para todos os seus descendentes. Por ela, novamente
o homem é capaz de merecer o Céu, tornando-se então filho
adotivo de Deus e membro
do Corpo Místico de Cristo,
a Igreja. A graça santificante anula a herança do pecado
original que há em todo o
homem, apesar de ainda permanecer na natureza humana uma
inclinação para o mal (a
concupiscência) que é vencida gradualmente com o auxílio divino
lucrado na penitência e pela vida de oração.
Mas
caso o homem volte a se separar de Deus cometendo um pecado
mortal, o Sacramento da
Penitência tem por efeito recuperar
a vida da graça, através
da absolvição sacramental. Os pecados
veniais não separam o
homem de Deus, mas apenas lhe diminuem o amor,
ao passo que os pecados mortais rompem completamente com a
amizade divina, expulsando a
graça da alma (cf. Sab. 1, 4-5).
Ao
instituir os Sacramentos, Cristo também considerou a fraqueza
humana, e quis dar um Sacramento que servisse de alimento
espiritual, para
fortalecer o homem na prática da virtude. Assim, a Eucaristia é o
maior de todos os Sacramentos, porque não apenas concede uma graça,
como também é a presença
real de Jesus Cristo sob
as aparências do pão e do vinho.
Quando o sacerdote consagra, o pão e o vinho mudam-se em Corpo e
Sangue de Cristo, mantendo porém as suas espécies,
porque continuam se comportando como pão e vinho mesmo após a
Consagração. Portanto, a presença de Jesus na Eucaristia
é real, mas invisível
e imperceptível.
Como
se vê, os Sacramentos transmitem as graças necessárias para que o
homem recupere a vida da alma e alcance a salvação. Entretanto,
eles nos fazem participar apenas dos frutos da Redenção,
enquanto que Nosso Senhor quer nos unir ao próprio
Sacrifício da Cruz. Mas de que
modo esta união e participação será possível, se Sua morte no
Calvário ocorreu há tantos séculos? Como a humanidade poderá se
unir ao Sacrifício do Filho de Deus, se só tão poucos puderam
estar presentes ao pé da Cruz? E de que maneira Jesus quer nos unir
em participação à Sua Oferta, se apenas Ele é capaz de expiar os
pecados do mundo?
O
Sacrifício de Jesus no Calvário é único e suficiente, pois o
mérito de Sua morte é infinito,
capaz de reparar os pecados de toda a humanidade. No entanto, Jesus
quer unir os homens ao Seu Sacrifício,
a fim de que participem do supremo culto de adoração, louvor, ação
de graças, reparação e impetração que Ele prestou à Trindade
Santíssima ao Se entregar na Cruz. Deve haver, portanto, um
meio pelo qual Cristo une os homens ao Seu Sacrifício sem
que se repita a Sua Paixão; e para isso Ele instituiu a Santa
Missa.
Com
efeito, o Catecismo da Doutrina Cristã ensina que a Santa Missa é o
“sacrifício incruento do Corpo e do Sangue de Jesus
Cristo, oferecido sobre os nossos altares, debaixo das espécies de
pão e vinho, em memória do Sacrifício da Cruz”.
A Missa é Sacrifício porque atualiza no altar a Oferta de
Cristo na Cruz, isto é, o mesmo
Sacrifício do Calvário é posto presente no tempo e no espaço pela
celebração da Santa Missa. Não significa que Jesus morra novamente
durante a Missa, ou que a sua celebração seja apenas uma
“lembrança” do Sacrifício da Cruz. A
Missa é realmente o mesmo Sacrifício do Calvário,
pois Jesus reapresenta a Sua Oferta
à Trindade Santíssima sem morrer uma segunda vez. Um só é o
Sacrifício de Jesus Cristo, mas que se torna presente no tempo e no
espaço a cada Missa celebrada.
E
por que razão a Santa Missa é exatamente o Sacrifício da Cruz?
Porque idêntica é a
Oferta e o Oferente. Na
Cruz, Jesus foi Sacerdote porque fez um Oferecimento,
e foi Vítima porque fez de Si mesmo a Oferta.
Na Missa, Jesus continua Sacerdote,
porque realiza o Oferecimento através do celebrante,
ao agir nele. Por esta razão, a Igreja ensina que o sacerdote age in
Persona Christi, isto é, “na
Pessoa de Cristo”, porque empresta a sua voz e seus atos para que o
próprio Cristo consagre e ofereça o culto. Por último, na Missa
Jesus continua Vítima,
porque oferece a Si mesmo no pão e no vinho mudados em Seu
Corpo e Sangue. O Sacrifício da
Cruz foi a Oferta total de Jesus à Trindade Santíssima, de Seu
Corpo e Sangue, Alma e Divindade. Na Missa, Jesus também Se oferece
tal como na Cruz, mas por meio das espécies eucarísticas.
Na
Cruz, Jesus entregou-Se até a morte, quando o Seu Sangue se
esgotou e se separou do Seu
Corpo. Na Missa, o celebrante consagra o pão, tornando-o o Corpo, e
depois consagra o vinho, tornando-o o Sangue do Senhor. Portanto,
assim como a separação do sangue e do corpo produz a morte
corporal, a Consagração separada do Corpo e do Sangue do Senhor
atualiza verdadeiramente o
Sacrifício da Cruz, porque Jesus é posto no altar sob o
estado de Vítima. Neste
sentido, não há
diferença entre a Cruz e a Missa,
porque idêntica é a Oferta e o Oferente, é o mesmo Jesus que Se
oferece e é oferecido.
Contudo,
quando a Missa atualiza no altar o Sacrifício da Cruz, ela o faz de
modo místico e
incruento.
É uma renovação mística do Calvário porque Jesus se oferece
sacramentalmente
no altar, ou seja, através do Sacramento do Seu Corpo e Sangue. A
consagração torna o pão e o vinho em Corpo e Sangue do Senhor, mas
as aparências de pão e vinho permanecem. Neste sentido, a Missa
atualiza verdadeiramente o Sacrifício do Calvário, mas ocultando
a Oferta e o Oferente debaixo de
símbolos e gestos que evocam a Cruz. Mesmo que o Sacrifício de
Cristo seja renovado na Missa de forma invisível, por meio do
Sacramento do Seu Corpo e Sangue, ainda assim a Missa não é um mero
“símbolo” ou “memorial” da Cruz. A Missa é realmente
idêntica ao Sacrifício do Calvário, ainda que exteriormente
vejamos apenas os ritos da Liturgia.
Por
último, dizemos que a Missa é Sacrifício incruento
porque é o mesmo Sacrifício do Calvário renovado de forma indolor
e
não-sangrenta, de modo
que a Oferta de Jesus à Trindade Santíssima não preserva as dores
de Sua Paixão quando é atualizada no altar. Isso porque Cristo está
glorioso no Céu, e não pode mais sofrer nenhum padecimento.
Portanto, se a Missa renova misticamente o Sacrifício do Calvário é
porque Jesus torna presente a Sua Oferta através do Sacramento do
Seu Corpo e Sangue, por meio do sacerdote celebrante, e sem as dores
da Cruz.
A
Missa é verdadeiramente a renovação do Sacrifício do Calvário, e
quando a instituiu, Jesus mostrou a relação essencial
que há entre a Cruz e a Missa. Com efeito, durante a Última Ceia, o
Senhor pronunciou as seguintes palavras sobre o pão: “Isto
é o meu Corpo, que é dado por vós”
(Lc. 22, 19). Nesta fórmula, Cristo declarou que o pão tornou-se o
Seu Corpo, e que este Corpo é entregue em
favor deles, tal qual Ele se entregaria a Si mesmo em Sacrifício na
Cruz. Assim se vê que a relação de identidade
entre a Missa e o Sacrifício do Calvário. Enganam-se, porém, os
que pensam que a Missa seja uma “ceia”, pois Jesus instituiu a
Missa ao fim a ceia
a fim de que fosse o Sacrifício da Nova Aliança (depois de ter
cumprido com os discípulos os ritos da Páscoa judaica, Ele celebra
sacramentalmente o Sacrifício que substitui a Velha Aliança). Com
efeito, a Eucaristia enquanto celebrada
é Sacrifício (Santa Missa), ao passo que a Eucaristia enquanto
recebida é Ceia (Comunhão),
porque Jesus faz do Seu Corpo e Sangue banquete espiritual da alma.
Da mesma maneira, se dizemos que a Missa é Sacrifício “em
memória do Sacrifício da Cruz”,
não é porque se trata de uma “lembrança” da Paixão do Senhor.
Pelo contrário: é no sentido de que torna
presente o mesmo Oferecimento do Calvário, de modo que um
só é o Sacrifício de Cristo,
mas dois são os modos como ele é oferecido: cruento (sangrento) na
Cruz, e incruento na Missa (cf. Compêndio do Catecismo da
Igreja Católica, questão 280).
3
- Quais são os fins da Missa?
Nosso
Senhor Jesus Cristo instituiu a Missa para
nos unir moralmente ao
Seu Sacrifício na Cruz, a fim de que por ela participemos da Sua
infinita homenagem à
Trindade Santíssima. Assim, sendo renovação do Sacrifício do
Calvário, toda a Missa é um culto: 1)
latrêutico (adoração),
2)
eucarístico
(ação de graças), 3)
propiciatório
(reparação e satisfação dos pecados), 4)
impetratório
(de petição de benefícios). Quando participamos da Missa, nos
unimos a Cristo em Seu Sacrifício, de modo que tomamos
parte deste Oferecimento,
fazendo do Seu culto o nosso culto. Neste sentido, não há
oração maior do que
a Santa Missa, porque ela é a
Oferta agradabilíssima de Jesus Cristo à Trindade Santíssima, à
qual toda a Igreja se une para com Ele, nEle e por Ele prestar o
devido culto a Deus. O amor infinito de Cristo pela humanidade não
só O impeliu a oferecer-Se no Calvário, como também a multiplicar
este Oferecimento a cada Missa celebrada, para que todos os homens
participem de Sua homenagem à Trindade Santíssima. Dizia São João
da Cruz que “amor só se paga com amor”,
e o único modo de pagar o imenso ato de amor que é a Missa é
frequentando-a sempre, fazendo todo o sacrifício para assistir o
maior número de Missas possível, porque a cada Missa celebrada
Jesus morre misticamente no altar pelos homens.
4
- A quem se oferece a Missa?
A
Missa é oferecida apenas a Deus, porque é o supremo culto que
Jesus, Deus e Homem verdadeiro, prestou à Trindade Santíssima.
Quando porém dizemos que uma Missa foi oferecida a algum Anjo ou
Santo, é no sentido de que honramos a Deus por eles,
ou então porque pedimos que eles se associem a nós
durante aquela Liturgia.
5
- Por quem se oferece a Missa?
A
Missa se oferece em benefício de todo o Corpo Místico de Cristo
como também de toda a humanidade porque: 1)
honra os Santos, que vivem na glória de Deus, 2)
alivia as almas do Purgatório, 3)
beneficia todos os fiéis vivos, 4)
atinge inclusive os
homens que vivem fora do grêmio da Igreja católica.
O
benefício dos vivos e defuntos, porém, é relativo,
porque depende do grau de disposição de cada um. As almas do
Purgatório só podem receber das graças da Missa de acordo com o
grau de amor que possuíram por
Deus na terra, de modo que uma alma tíbia pouco receberá em morte.
Isso porque depois da morte o
tempo de merecimento acabou,
e a alma já não pode mais acrescentar méritos para a sua salvação.
Sendo assim, os fiéis defuntos recebem proporcionalmente à
disposição de alma que tinham durante a vida. Há também de se
considerar que a aplicação das graças aos fiéis defuntos depende
da vontade de Deus, que pode
querer que uma alma fique mais ou menos tempo no Purgatório. Daí a
importância de se oferecer várias vezes a Missa por uma alma.
Os
fiéis vivos também recebem desigualmente as graças da Missa. Há
três classes de benefícios: 1)
pelo sacerdote celebrante, 2)
pelos fiéis presentes (a começar por aqueles que ajudaram na
celebração de alguma maneira), 3)
pelos fiéis em geral. O
benefício depende da disposição
interior, e do real
desejo de participar daquela Missa, de modo que quanto maiores forem
a contrição, a fé e a caridade, mais frutífera será a
participação. Desse modo, ainda que a Missa seja oferecida também
por toda a humanidade, seus frutos só beneficiam quem possui
intenção reta. Mesmo que uma só Missa seja capaz de converter a
humanidade inteira, Deus, que é justo, só pode aplicar os frutos do
Sacrifício eucarístico, ordinariamente falando, aos que tem a
devida disposição de coração.
6
- Quem pode assistir a Missa e comungar?
Somente
um católico batizado pode assistir a Missa por inteiro—ainda que
não seja ilícita a presença um não-católico—, principalmente a
sua parte sacratíssima, a Consagração. Para isso, a Igreja dividiu
o Rito da Missa em duas partes: Missa
dos catecúmenos e Missa
dos fiéis. A primeira
parte está voltada para aqueles que se preparavam para o Batismo (os
catecúmenos), e que por isso mesmo não podiam assistir as partes
mais sagradas da celebração. Na Missa dos catecúmenos, que vai do
início até o Credo, dá-se toda a parte catequética
do Rito, porque expõe a Fé católica através de leituras, salmos e
o Credo. A segunda parte, por sua vez, é dedicada aos batizados, aos
quais se expunha os Santos Mistérios da Religião. Na Missa dos
fiéis, que vai do Ofertório até os ritos finais, ocorre a parte
sacramental do Rito, cujo centro
é a Consagração, seguido da Comunhão.
A
Comunhão só é dada aos católicos batizados, que não estão
impedidos de pecado
mortal, cisma,
heresia
ou excomunhão.
Neste sentido, só pode comungar quem está em estado
de graça, isto é, em
união com a Igreja e livre de todo o pecado mortal. Para isso, é
necessário que o católico examine constantemente a consciência, a
fim jamais se aproximar da Eucaristia sem antes ter recebido o perdão
dos pecados mortais na Confissão sacramental. Com efeito, o pecado
mortal é uma ofensa grave
a Deus, quando a
matéria do pecado é grave, há
plena advertência e
pleno consentimento de
cometê-lo. Todos os pecados contra os Mandamentos são graves: não
amar a Deus sobre todas as coisas, faltar à Missa em dias de
preceito, odiar o próximo, mentir com intenção de enganar ou
prejudicar, embriaguez (quando é completa), adultério, os pecados
contra a castidade (o desejo do prazer ou da vida sexual fora do
matrimônio), roubo (quando há grande prejuízo do próximo), etc.
Só se obtém o perdão dos pecados mortais pelo Sacramento da
Penitência, porque ele recupera a vida da graça
perdida e rompida pela ofensa grave. Mas também é possível
recuperar a graça quando se faz um ato
de contrição perfeita
unido ao desejo de se confessar
na oportunidade mais próxima. Ainda assim, o penitente não pode se
aproximar da Comunhão enquanto não consumar a sua Confissão.
Há
quem diga que Jesus veio curar as almas doentias, e por isso todos os
pecadores podem comungar sem necessidade da Confissão sacramental.
No entanto, a Confissão é justamente o meio da cura,
e não só seria errado como também grave
sacrilégio comungar em
estado de pecado mortal. Com efeito, a Eucaristia é o Sacramento
do Amor, porque nele
Jesus Se faz alimento das almas para a sua santificação e salvação,
e por isso só se aproximam desse Sacramento quem não rompeu com o
amor a Deus, Ele que vive em nós pela graça. Os pecados veniais,
por sua vez, porque apenas diminuem o amor a Deus sem
perdê-Lo, não impedem de
comungar, ao contrário dos mortais, que exigem antes a Confissão
sacramental. Recomenda-se confessar-se pelo menos a cada mês (ou o
mais frequente possível), porque a Confissão não só perdoa os
pecados confessados (mortais ou veniais), como também dá as graças
necessárias para evitar os pecados futuros. Na dúvida se um pecado
é venial ou mortal, um método de exame de consciência de
devocionários, manuais ou catecismo de doutrina podem esclarecer,
mas a dúvida pode ser declarada ao confessor. No entanto, aquele que
cometeu um pecado mortal, mas sem consciência, está isento de
culpa, devendo ainda assim confessá-lo, explicando a circunstância
ao confessor. Que os católicos nunca esqueçam do tremendo
privilégio que é comungar o Corpo do Senhor, e para isso procurem
fazê-lo com a consciência limpa,
a fim não atraírem para si a condenação e a morte eterna.
Por
último, também não podem comungar quem está separado da Igreja
por cisma (desobediência à autoridade do Papa), heresia (negação
de uma ou mais verdades de Fé) ou excomunhão (a expulsão da Igreja
por algum erro ou pecado que mereça tal punição). Caem em
excomunhão os católicos que: 1)
praticam ou favorecem o aborto, 2)
filiam-se, votam ou participam de Partidos socialistas ou comunistas.
A filiação em sociedades secretas (como Maçonaria, Rosa Cruz,
etc), outrora punida com a excomunhão, atualmente não passa de pecado mortal.
A
Igreja também estipula o jejum
eucarístico, como sinal
de respeito à presença real de Jesus no Sacramento do altar. A
regra atual para o jejum é de uma hora sem alimento sólido até o
momento da Comunhão, permitindo-se água a qualquer instante.
7
- Como se deve comungar?
A
Igreja, desde muitos séculos, exige que a Comunhão seja dada
exclusivamente na boca,
com o comungante de joelhos.
A Comunhão na boca visa: 1)
afirmar a superioridade do
sacerdote sobre os fiéis,
pois ele é quem possui as mãos
consagradas
para distribuir o preciosíssimo dom da Eucaristia, 2)
evitar que fragmentos
da Hóstia
fiquem presos na mão do comungante, como também caiam eventualmente
no chão durante a distribuição, 3)
recordar que a Eucaristia vem da Igreja, e portanto não é
conveniente que os fiéis comunguem por si mesmos, mas pelas
mãos do ministro competente,
que é o sacerdote. O ato de ajoelhar-se, por sua vez, expressa: 1)
a adoração necessária para com a Eucaristia, por ser presença
real
de Jesus sob as aparências de pão, 2)
a reparação que os fiéis devem a Nosso Senhor, quando os soldados
O ofendiam ajoelhando-se diante dEle, para zombá-Lo de se dizer Rei
dos judeus.
As
vantagens da Comunhão de joelhos e na boca são inquestionáveis,
mas desde a década de 60, na Holanda, a prática da Comunhão na mão
disseminou-se sem autorização
da Igreja.
Até então, a Comunhão na mão só estava permitida em caso
de necessidade,
quando o sacerdote não tinha condições de distribui-La a todos os
comungantes, como durante uma guerra. Por esta razão, o Papa Paulo
VI mandou perguntar aos Bispos do mundo todo se eles aceitariam a
Comunhão na mão. A maioria
absoluta dos Bispos negou.
Por conseguinte, o Papa ordena que a Comunhão continuasse
a ser distribuída como sempre.
Apenas foi dada autorização para a Comunhão na mão nos
países onde ela já estava estabelecida,
mas sob
a condição de exceção.
Rapidamente,
porém, a Comunhão na mão se espalhou pelo mundo todo, contra
a vontade do Papa.
Os resultados desta prática abusiva já haviam sido previstos por
Paulo VI: a diminuição
na Fé em Jesus eucarístico,
justamente porque eliminaram-se
todos os sinais de adoração
que a Comunhão de joelhos e na boca possuem. Muitos sacerdotes
movidos por uma teologia alheia à doutrina católica usaram da
Comunhão na mão para ensinar que a Eucaristia é um “mero
símbolo” (qualquer um pode pegá-la nas mãos), e que o sacerdote
não é superior ao povo (qualquer um pode subir ao altar e se servir
da Eucaristia sem o celebrante). Daí se vê a gravidade desta
prática.
Diante
desta lamentável crise de Fé na presença real de Jesus na
Eucaristia, o Papa Bento XVI, desde a festa de Corpus
Christi
de 2008, começou a distribuir a Comunhão da forma tradicional: de
joelhos e na boca. Já se aguarda que no futuro a Comunhão na mão
será novamente proibida, porque a sua liberação não
trouxe bons resultados.
No
Rito Gregoriano, a Comunhão só pode ser recebida na boca e de
joelhos. Por motivos de saúde, quem não pode se ajoelhar recebe-a de pé; nunca, porém, na mão. No Rito Reformado, por sua
vez, é possível as duas formas. Contudo, muitos sacerdotes, movidos
por falsos preconceitos, proíbem os fiéis de comungarem na boca e
de joelhos. Na verdade, eles
não têm poder para proibir,
visto que a Comunhão na boca ou de joelhos é um direito
inalienável dos fiéis,
e nem mesmo um motivo de saúde pública pode obrigar os fiéis a
comungarem na mão—como afirmou, em 2009, a Congregação para o
Culto Divino. Ademais, a Ciência concorda que a
Comunhão na boca é mais higiênica,
porque envolve apenas a mão do celebrante, que foi lavada antes e
durante a Missa, bastando a ele que apenas “lance” a partícula
na língua do comungante sem risco de tocá-la—o que será mais
fácil ainda se o fiel estiver de joelhos.
8
- Assistir à Missa é uma obrigação?
A
Igreja obriga os católicos a assistirem à Missa em determinados
dias, considerados de
preceito, sob pena de
pecado mortal.
Isso porque a Igreja é Mãe e Mestra, e tem poder de determinar
sobre seus filhos as circunstâncias para o cumprimento dos
mandamentos, a fim de cuidar da
sua salvação. Com efeito, quem faltou à Missa em dia de preceito
pecou porque desobedeceu a Igreja,
manifestando assim um grande descaso
pela salvação da própria alma.
Os
dias de preceito são todos
os domingos do ano, mas
atualmente Missa vespertina de sábado cumpre o preceito. Também são
de preceito as festas de: Maria Mãe de Deus (1/1), Epifania (6/1),
Ascensão, Corpus Christi,
Assunção de Nossa Senhora (15/8), Todos os Santos (1/11), Imaculada
Conceição (8/12) e Natal (25/12). No Brasil é permitido a
transferência das festas da Epifania, Ascensão, Assunção e Todos
os Santos para o domingo seguinte. Estão dispensados do preceito
aqueles que moram muito longe da igreja, sem possibilidade de se
deslocar até ela, os doentes, e os que são obrigados a trabalhar no
dia para o próprio sustento. Nos domingos e dias
santos é pecado não só faltar à Missa, como também ocupar-se
em trabalhos manuais e
forçosos
desnecessários, que impedem a santificação
deste dia.
Outra
ocasião de dispensa para a Missa é quando a celebração constitui
perigo para a fé,
porque favorece o escândalo, a heresia ou profanação. Neste
sentido, se o celebrante reza a Missa adulterando as orações do
Missal, a fim de mudar-lhes o sentido, ensina doutrinas contrárias à
Igreja, não dá a devida reverência ao Santíssimo Sacramento,
permite músicas inadequadas, insere teatros, apresentações ou
outras comemorações inapropriadas, o fiel tem o direito
de não frequentar tais celebrações,
porque ameaçam a integridade de sua fé e impedem a sua
santificação.
Contra
o preceito de assistir à Missa, alguns alegam que só a assistem
“quando tem vontade”. Mas uma alma doente, que descuida da
própria salvação, certamente não terá vontade de assistir à
Missa, tanto quanto um doente recusa os alimentos porque não tem
fome ou não sente o sabor. Todo católico deve lutar contra os seus
defeitos para cumprir devotamente as suas obrigações religiosas, e
não se deixar vencer pela preguiça, pelo desleixo e pelo relaxo,
porque não há nada mais necessário no mundo do que a salvação da
alma.
9
- De que modo se participa da Missa?
A
Missa é a renovação mística e incruenta do Sacrifício da Cruz,
no qual Jesus ofereceu à Santíssima Trindade um culto de adoração,
louvor, ação de graças, reparação e satisfação dos pecados. Se
Nosso Senhor quis instituir a Santa Missa é para que os homens
participem do Seu Sacrifício, isto é, que se unam a Ele a
fim de tomarem para si a infinita homenagem de Cristo. Pela
Missa o homem participa da Cruz, porque toma parte no culto de Jesus
oferecido no Calvário, de modo que por Ele, com Ele e nEle é dado
digno culto a Deus.
Participar
da Missa é oferecer Jesus no altar, fazendo do Seu Sacrifício
o sacrifício de cada assistente da celebração. Um só é o que
sacrifica, isto é, aquele que age em nome de Cristo (o celebrante),
mas muitos são os que oferecem a Missa (os assistentes), porque se
unem ao sacerdote fazendo daquele Sacrifício uma homenagem pessoal a
Deus. Nenhuma criatura pode oferecer um culto digno de Deus, porque
os louvores das criaturas são insuficientes perante a infinita
majestade do Criador. Entretanto, pela Missa o homem se une a Jesus
nas intenções de adoração, louvor, ação de graças, reparação
e satisfação dos pecados pelas quais Ele Se ofereceu na Cruz.
Neste
sentido, é necessário fazer uma distinção entre
“participar da Missa” e “participar do Rito”. Com efeito,
participar da Missa é a unir-se em intenções com Jesus
no Seu divino Sacrifício, para lucrar da Sua infinita homenagem
à Trindade Santíssima. Participar do Rito, por sua vez, é
segui-lo como meio de união com a Missa. O Rito são as
cerimônias pelas quais se celebra a Missa, e acompanhá-lo é um
meio de atingir a união com o Sacrifício do altar. Deste modo,
participar das cerimônias não significa participar da Missa.
Para participar da Missa, não basta cantar, responder as orações e
fazer gestos; estes atos só fazem sentido quando estão unidos a um
desejo interior de participar da Missa.
Quem
foi a uma Missa sem conhecer o seu Rito—porque foi rezado em uma
língua diferente ou por se tratar de outro Rito—nem por isso
perdeu de participar da celebração. Não é necessário
acompanhar as cerimônias para participar da Missa, basta a
intenção. Neste sentido, há quem prefira participar da Missa
através de métodos particulares, rezando o Rosário, a Via-Sacra,
fazendo leituras e meditações piedosas ou outras orações durante
a celebração. Não se trata de “rezar durante a Missa”, mas de
oferecer orações que suscitem as intenções necessárias
para participar da Missa. Deste modo, a Missa é participada tanto
por quem acompanhou as cerimônias quanto por quem rezou em
particular: o essencial é unir-se em intenções com Nosso
Senhor, porque para participar do Seu divino Sacrifício que se
renova no altar é preciso também ter os mesmos desejos de adoração,
louvor, ação de graças, reparação e satisfação pelos pecados
que O levaram a Se oferecer na Cruz.
“Eis
o meio mais adequado para assistir com fruto à Santa Missa: consiste
em irdes à Igreja como se fôsseis ao Calvário, e de vos
comportardes, diante do altar, como o faríeis diante do trono de
Deus, em companhia dos Santos Anjos. Vede, por conseguinte, que
modéstia, que respeito, que recolhimento são necessários para
receber o fruto e as graças que Deus costuma conceder àqueles que
honram, com sua piedosa atitude, mistérios tão santos.”
(São
Leonardo de Porto-Maurício.
As
excelências da Santa Missa)
10
- De que modo deve ser a atitude de quem assiste à Missa?
“Ora,
dizei-me sinceramente se, quando ides à igreja para assistir a Santa
Missa, pensásseis bem que ides ao Calvário assistir à morte do
Redentor, que diria alguém que vos visse ai chegar numa atitude tão
pouco modesta? Se Maria Madalena fosse ao Calvário e se prostrasse
aos pés da Cruz vestida, perfumada e ataviada como em seus tempos de
desordem, quanto não seria censurada! E que se dirá de vós que
ides à Santa Missa como se fôsseis a uma festa mundana?
Que
aconteceria, sobretudo se profanásseis este ato tão santo, com
gestos, risadas, cochichos, encontros sacrílegos?
Digo
que, em qualquer tempo e lugar, a iniquidade não tem cabimento; mas
os pecados que se cometem na hora da Santa Missa e na proximidade do
altar, são pecados que atraem a maldição, de Deus: Maldito o que
faz a obra do Senhor com má fé (Jer. 48,10). Meditai seriamente
sobre esse assunto.”
(São
Leonardo de Porto-Maurício.
As
excelências da Santa Missa)
Diante
do tremendo Sacrifício da Santa Missa, como ensina São Leonardo, os
fiéis devem possuir uma atitude devota, respeitosa e modesta,
ciente de que é Jesus que se oferece misticamente no altar por toda
a humanidade. Assim diz uma oportuna oração do Rito Bizantino:
“Ninguém que se deixa dominar pelas paixões e pelas
inclinações do corpo é digno de se aproximar e se apresentar
diante de Vós para Vos render culto, porque Vos servir, ó Rei de
imensa glória, é uma ação grandiosa e atemorizante mesmo para os
poderes celestes.”
Neste
sentido, para uma participação frutífera da Missa, os fiéis
devem vestir-se com modéstia e decência. É completamente
incabível usar bermudas, regatas, roupas curtas, apertadas,
decotadas, transparentes, com dizeres ou estampas mundanas, que
distraem e escandalizam os demais fiéis, sendo causa de condenação
para que as usa. O cuidado das roupas indica que Deus é o centro da
Liturgia, e nada deve desviar-se dEle. Esta questão é tão
necessária que desde o tempo dos apóstolos era costume que as
mulheres usem um véu sobre a cabeça, como símbolo de
submissão, humildade e espírito de oração. O véu, apesar de ter
caído no desuso, nunca foi abolido, e é um importante sinal da
presença do sagrado, que precisa ser recuperado pelas gerações de
hoje.
Durante
a Santa Missa, não se pode ler jornais ou similares, conversar,
atender ao celular dentro da igreja, comer ou prender a atenção a
qualquer outra atividade que distrai da Liturgia, sob risco de pecar
contra o primeiro mandamento. Também é escandaloso que casais
troquem sinais de afeto durante a Missa (abraços, beijos), por não
ser o momento e nem o local adequados.
11
- Em que língua é rezada a Missa?
Inicialmente,
era rezada em aramaico e grego, línguas faladas nas regiões onde
habitavam os primeiros cristãos. No Rito Latino, o latim foi aos
poucos incorporado à Liturgia, até tornar-se a sua língua oficial.
Com efeito, desde muitos séculos a Missa do Rito Romano é rezada em
latim, excetuando-se o sermão, sempre feito em língua
vernácula (a língua do povo). A Reforma Litúrgica do Concílio
Vaticano II, por sua vez, desejou aumentar o uso do vernáculo nas
celebrações, sendo que em 1965 permitiu-se a língua
vernácula em diversas partes da Missa. A partir de 1969, com a promulgação
do Novo Ordinário da Missa, toda a Liturgia pode ser
celebrada na língua do povo.
Mesmo
autorizando o uso da língua vernácula, o latim continua sendo a
língua oficial do Rito Latino, de modo que: 1) nunca
é ilícito celebrar Missa em latim, 2) o vernáculo é
uma exceção permitida, 3) seu alcance é limitado
e depende da autorização prévia da Igreja. Sempre foi do
reconhecimento da Igreja as vantagens do latim para a
preservação da sacralidade na Liturgia:
- O latim é uma língua separada para Deus, exclusiva para o culto, para mostrar que a Liturgia é uma ação sobrenatural, merecendo uma língua própria, diferente da língua vulgar. Com efeito, o latim é uma língua morta, isto é, não falada mais por nenhum povo, por ter caído no desuso. Ao escolher o latim como língua litúrgica, a Igreja quer mostrar que o culto está dirigido a Deus e não ao povo, e por isso usa-se uma língua que não seja a vulgar, diferenciando-se uma ação sagrada de um evento mundano. E devido à dignidade da Liturgia, pede-se uma língua mais nobre, para se expressar de modo inequívoco a Fé da Igreja.
- O latim preserva a Liturgia de falsas interpretações, impedindo que se dê sentido particular às orações da Igreja. Em latim, a Liturgia guarda apenas o sentido dado pela Igreja, evitando-se que a má compreensão dos textos litúrgicos gere falsas teologias. Mesmo as traduções autorizadas pela Igreja do Rito da Missa podem ser deturpadas. Deste modo, o latim obriga os fiéis a buscarem não só a tradução adequada como também o sentido exato da oração, de acordo com a Fé católica.
- As línguas vernáculas (como o português, espanhol, inglês, etc.) mudam com o passar do tempo, porque são línguas vivas, faladas por diversas nações. O português falado por Camões não é o mesmo de Machado de Assis, que também não é o mesmo falado hoje. Se a Liturgia for celebrada na língua vulgar, de tempos em tempos seriam necessárias traduções atualizadas e adaptadas, o que facilita em muito a falsificação do texto litúrgico, visto que os inimigos da Igreja teriam a oportunidade de divulgar uma tradução com erros teológicos. Do mesmo modo, as mudanças que as línguas vernáculas sofrem ao longo do tempo prejudicam a preservação do sentido das orações, quando algumas palavras caem no desuso e outras mudam de significado. O latim, sendo língua morta, não muda com o tempo, e preserva de modo inabalável as orações da Liturgia. Pelo latim, dedica-se a Cristo, Deus morto e ressuscitado, uma língua morta e ressuscitada pela Igreja para o culto divino.
- A Liturgia é o culto oficial da Igreja, pelo qual todos os cristãos rendem o mesmo louvor a Deus. Por conseguinte, o latim representa a unidade da Igreja e a unidade de culto, porque a unidade da língua litúrgica indica que é o mesmo culto apesar da diversidade dos povos e nações. Na torre de Babel, cada qual falava uma língua, e ninguém se entendia. Em Pentecostes, ao contrário, o Espírito Santo permitiu que todos se entendessem mesmo sem falar a mesma língua. O latim une a Igreja universal, de modo que a mesma Fé é professada de igual maneira ainda que muitos sejam os lugares, culturas, pessoas, etc.
- Na placa da Cruz de Cristo a Sua sentença foi escrita em latim, grego e hebraico. O Rito da Missa abrange estas três línguas, porque é rezado em latim, contendo também palavras em grego (Kyrie, Christe, eleison) e hebraico (Amen, Sabaoth, Hosanna). Com isso se quer simbolizar que a Missa é o mesmo Sacrifício do Calvário. Ademais, como tudo aquilo que Cristo tocava tornava-se santo, a língua que a Igreja usou durante séculos para a celebração dos divinos mistérios também tornou-se santificada pelo uso, de modo que o latim é uma língua sagrada, própria para a Liturgia. Outros povos também observaram a conveniência de haver uma língua sagrada, separada para o culto. Os judeus, por exemplo, falavam aramaico no quotidiano, mas usavam o hebraico no Templo. Os muçulmanos, por sua vez, usam do árabe, enquanto que os hindus, do sânscrito.
- Um ato tão sagrado quanto a Liturgia exige um cuidado zeloso e devoto, principalmente na Santa Missa, quando o próprio Jesus se torna presente no altar. Deste modo, deve-se preservar o culto divino livre de toda a blasfêmia, profanação ou sacrilégio. Para isso, o latim ocupa a função de guardar a Liturgia do alcance dos inimigos da Igreja, de modo que o uso de uma língua desconhecida evita que os blasfemadores ofendam as coisas santas, justamente porque não compreendem o seu significado. Jesus mesmo ensinou que não se deve dar pérolas aos porcos, isto é, as coisas santas àqueles que não sabem apreciá-las. Ele mesmo quando falava ao povo, dizia tudo em parábolas, revelando o seu significado somente aos apóstolos, para evitar que certas verdades mal compreendidas fossem causa de escândalo e condenação aos demais. Mesmo entre os fiéis, o uso de uma língua desconhecida indica que a Liturgia é ação misteriosa, porque Deus opera de forma prodigiosa e incompreensível no culto da Igreja. O latim é um convite à postura humilde e submissa, quando muitos se enchem de soberba porque julgam “entender” a Missa somente por conhecer as suas orações.
Perante
tantos benefícios que o latim traz para o culto, a Igreja deseja a
sua permanência enquanto língua oficial da Liturgia—ao menos no
Rito Latino—, de modo que as línguas vernáculas jamais irão
substituir ou abolir a língua latina. O latim, além de suas
consideráveis vantagens, em
nada impede que
os fiéis tenham uma frutífera assistência da Missa—mesmo não
entendendo a língua—, porque, como foi dito acima, a
participação não depende do Rito ou da língua, mas da intenção.
São os desejos da alma que garantirão a participação, e não o
acompanhamento das cerimônias por si só.
12
- Onde é rezada a Santa Missa?
A
sacralidade da Santa Missa exige que sua celebração seja feita com
toda a dignidade, respeito e solenidade possível. Com efeito, não é
cabível celebrar Missa em sedes de confissões religiosas, como
igrejas ou colégios protestantes, centros espírita, bem como em
sociedades acatólicas, a exemplo da Maçonaria, Rosa-Cruz, etc. A
Santa Missa deve ser oferecida em igreja ou capela católica, e uma
celebração campal só é lícita quando necessário. Apenas em
tempos de guerra ou calamidade a Missa pode ser celebrada em
ambientes precários ou impróprios, como florestas, casas
particulares, depósitos, etc.
A
Missa é oferecida obrigatoriamente sobre o altar, que é a parte
mais alta da igreja. Desde muitos séculos os altares possuem um
sepulcro,
isto é, um pequeno espaço cavado em sua superfície, onde são
depositadas as relíquias de dois santos, sendo um deles
necessariamente mártir. Este costume recorda que, nos primeiros
séculos, a Missa era celebrada nas catacumbas, sobre os túmulos dos
santos martirizados. Se a Santa Missa é Jesus Se sacrificando
misticamente pelos homens, o altar deve conter as relíquias de algum
santo que se sacrificou por Cristo, isto é, o mártir.
Sobre
o altar, o Rito Gregoriano exige três toalhas, o crucifixo e no
mínimo duas velas. A Cruz recorda o Sacrifício do Calvário, que
será atualizado durante a Santa Missa, enquanto que as velas
simbolizam a doação,
porque para a vela gerar luz e calor, ela precisa se consumir. É
costume enfeitar o altar com flores, que representam os bons desejos
de virtude que o homem deve oferecer a Deus. Em tempos de penitência,
as flores são retiradas.
Desde
os tempos primitivos, a Santa Missa era rezada com o celebrante
de costas para o povo.
Isto porque o altar sempre era construído em direção ao Oriente
(ad
Orientem),
do sol nascente, representando que Cristo é o Sol da Justiça (cf.
Ml. 3, 20) e a Luz da verdade (cf. Jo. 8, 12), e é para Ele que os
fiéis se voltam durante a Liturgia. Se o celebrante dava as costas
para os fiéis, era no intuito de ele também se voltar na direção
do leste. E quando no altar está fixado o Tabernáculo, tal postura
também serve para que ele fique de
frente para Deus
(versus
Deum),
conservado sacramentalmente no Sacrário. Mesmo nas igrejas cujo altar principal não
tem Sacrário, e nem foram construídas na direção do leste (caso
das basílicas romanas), o celebrante continua “voltado para Deus”
porque reza diante do crucifixo posto sobre o altar, símbolo do
Santo Sacrifício da Missa.
Atualmente,
a Igreja autorizou a postura do celebrante “de frente” para o
povo (versus
populum),
para que os fiéis vejam o que se passa no altar. No entanto, esta
postura
não substituiu
o costume antiquíssimo de se rezar a Missa “de frente” para
Deus. Autoridades da Igreja e estudiosos de Liturgia comentam que rezar a Missa de frente para o povo dá a entender que o centro da
celebração são os fiéis. Este pensamento tem levado diversas
celebrações a se desviarem do seu sentido sagrado, tornando-se um
mero festejo popular.
No
Rito Gregoriano a Santa Missa sempre é celebrada de costas para o
povo, ao passo que, no Rito novo, permite-se o uso das duas posturas.
Afinal, o Rito novo é o resultado de uma reforma
litúrgica,
que mudou e diminuiu as orações da Liturgia romana, a fim de
facilitar a participação dos fiéis, mas isto não significa que a
tradição da Igreja deva ser eliminada e extirpada dele. Deste modo,
o Rito novo pode ser celebrado em latim e de costas para o povo. O
que mudou da "Missa antiga" para a "nova" é o
Rito,
e não a arte
de celebrar
(ars
celebrandi).
13
- Qual a relação entre a música e a Liturgia?
A
Liturgia é o culto oficial da Igreja, na qual o homem por inteiro se
dirige a Deus. É porque a criatura deve uma submissão total ao
Criador que a Liturgia oferece um culto integral a Deus, em que o
corpo e a alma têm a sua justa participação. Para tanto, a Igreja
sempre adornou o culto litúrgico de ricas cerimônias, porque não
basta louvar a Deus apenas com a alma, mas também pelo corpo, usando
de símbolos, ritos e gestos que expressam e manifestam os atos da
Religião, e assim obrigam a natureza por inteiro do homem a
participar do culto divino. Neste sentido, grande utilidade tem o
canto para a oração da Igreja, o qual não é apenas um
acompanhamento, mas parte integrante da Liturgia.
Assim tinha ensinado o Papa São Pio X no documento “Tra le
solicitudine”, quando afirma que, na Liturgia, a música sacra
“participa do seu fim geral, que é a glória de Deus e a
santificação dos fiéis, [pois] concorre para
aumentar o decoro e esplendor das sagradas cerimônias; e, assim como
o seu ofício principal é revestir de adequadas melodias o texto
litúrgico proposto à consideração dos fiéis, assim o seu fim
próprio é acrescentar mais eficácia ao mesmo texto, a fim de que
por tal meio se excitem mais facilmente os fiéis à piedade e se
preparem melhor para receber os frutos da graça, próprios da
celebração dos sagrados mistérios.”
E
justamente porque a música sacra é parte integrante da Liturgia, de
modo a colaborar na glorificação de Deus e santificação dos fiéis
que ela deve possuir as qualidades próprias da Liturgia, isto é,
nomeadamente, a música sacra deve ser: 1) santa,
excluindo todo o mundano, 2) arte verdadeira, imprimindo
eficazmente na alma dos fiéis os desejos e intenções pelas quais
se celebra a Liturgia, 3) universal, ou seja, uma arte
que possa sempre ser reconhecida em todas as épocas e lugares como
música apropriada para o culto litúrgico.
Por
estas razões, nem toda a música é cabível na Liturgia. É
necessário que possua uma melodia adequada, de modo que disponha
a alma para o culto
e desperte sentimentos de contrição, adoração, humildade, etc.
Neste sentido, o Rito Romano desde muitos séculos emprega o canto
gregoriano
como seu canto oficial. Com efeito, o gregoriano é definido como “a
palavra cantada”, porque sua melodia se desenvolve em torno das
salmodias e orações da Igreja, sendo canto litúrgico por natureza.
Não há canto mais sublime, harmonioso e perfeito para o culto
divino do que o gregoriano, e por isso mesmo vivamente difundido
pelos Papas.
Na
Reforma Litúrgica, a Igreja reconheceu a superioridade do canto
gregoriano, mas deu também maior espaço para cânticos religiosos
populares, que já eram usados desde muitos séculos. Há de se notar
que a aprovação dada pela Igreja não atinge todo o tipo de canto
religioso. O cântico popular deve ser coerente
com a Liturgia,
mantendo a sacralidade, solenidade e sobriedade. Neste
sentido, o interesse da Reforma Litúrgica era aprovar os hinos e
salmodias católicos existentes na época, mas jamais tolerar as
músicas disseminadas hoje na Liturgia, de inspiração
protestante,
seja na letra, em contradição com a fé, ou na melodia, impregnada
de sentimentalismo e romantismo.
Com
relação aos instrumentos, somente a partir de alguns séculos é
que eles se disseminaram, pois o canto litúrgico—seja o canto
gregoriano no Ocidente ou o canto bizantino no Oriente—foi geralmente executado sem acompanhamento instrumental. Para as celebrações de
Rito Romano, a Igreja prescreve o órgão
como
o instrumento mais adequado. Entretanto, em tempos de penitência, os
instrumentos silenciam.
Atualmente,
para as celebrações no Rito reformado da Missa, introduziu-se o
abusivo costume de permitir instrumentos
mundanos,
como bateria, guitarra, sanfona, piano, etc. Estes instrumentos não
se adequam
à sublimidade da Liturgia, pois são próprios para a música
profana. A
Igreja os proíbe
desde a instrução “Tra
le solicitudine”,
do Papa São Pio X. A música, para que participe da Liturgia, deve
ser sacra,
isto é, separada de tudo o que é mundano. Do contrário, a
celebração se torna apenas um festejo comunitário, e não o culto
a Deus.
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