Harmônio (órgão sem tubos, cujo som é semelhante ao do acordeão) da Catedral Nossa Senhora de Belém tocando o famosíssimo cânone em ré maior de compositor barroco alemão Johann Pachelbel (1653-1706). Mesmo que alguns reparos sejam necessários, o harmônio ainda se demonstra capaz de produzir música!
Com efeito, alguns cidadãos mais idosos de Guarapuava se lembram até hoje do tempo em que a Missa da Matriz era acompanhada por órgão ou por este harmônio, e cantada com canto gregoriano. Naquele tempo, a fábrica do sr. João Edmundo Bohn, em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, vendia harmônios para paróquias e capelas do Brasil todo, haja vista a facilidade de fabricação e o seu baixo custo. A Igreja sendo patrocinadora das artes, pois quer oferecer à Santíssima Trindade um culto santo e belo—afinal, foram os hereges que sempre dissociaram a vida interior do culto exterior, como se a primeira por si só bastasse e o segundo merecesse o desprezo—, toda igreja procurava ter o seu órgão ou harmônio, cada uma conforme as suas possibilidades. Não raro Missas polifônicas eram cantadas mesmo no interior, onde a população está afastada dos grandes centros de difusão do conhecimento, da cultura e da arte.
Ora, mas se não há universidades, teatros ou escolas de belas artes no interior, há sempre uma paróquia ou capela. Como ensina o Doutor Angélico: "gratia non tollit naturam, sed perficit" [a graça não destrói a natureza, mas a aperfeiçoa] (Suma Teológica, Iª parte, questão 1, artigo 8, resposta à 2ª objeção). A Religião, ao invés de desprezar as capacidades naturais do homem para fazê-lo se dedicar apenas à vida espiritual, ordena-as ao seu fim sobrenatural. Assim, tanto o estudo quanto a arte tornam-se instrumentos para se conhecer, amar e servir melhor a Deus. Mas não se contentando em aprová-los, a Igreja também os difunde: toda catedral, paróquia ou capela é a escola, o palácio e o museu dos pobres e ignorantes, que na igreja têm acesso a tantas riquezas e belezas que somente os abastados podem adquirir.
"Agnosce, o christiane, tuam dignitatem" [Reconheça, ó cristão, a tua dignidade], diz São Leão Magno no Sermão Iº da Natividade do Senhor. É porque o homem é chamado à grande dignidade de filho de Deus pela graça—"et divinæ consors factus naturæ" [e feito consorte da natureza divina]—que ele deve buscar as coisas do alto—"noli in veterem vilitatem degeneri conversatione recidere" [não queira voltar à velha baixeza por uma conversação degenerada]. Seria uma falta de fé na dignidade à qual Deus chama o homem a Igreja não promover o conhecimento, a cultura e as artes, pois quem foi batizado em Cristo deve se revestir de Cristo (cf. Gl. III, 27), levando uma vida toda nova com Ele. O cristão, mais do que qualquer outro, quer desenvolver as suas capacidades naturais, para a maior glória de Deus.
Os fiéis podem louvar a Deus com formas mais simples e adaptadas às suas capacidades; mas a Igreja, enquanto Mãe e Mestra da verdade, nunca perde de vista aquelas formas mais perfeitas, que quer fazê-los apreciar. Afinal, de que adianta se falar tanto na "dignidade da pessoa humana" se se tem receio de tirar os homens da sua mediocridade? A inteligência que o Criador deu para todos os homens não deve ser subestimada, mas sim, cultivada.
Conheçamos a nossa riquíssima cultura católica, formadora da Civilização ocidental, a fim de que este cânone, e outras belíssimas peças, possam ressoar novamente nas igrejas do Brasil.
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